terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Anais da IV Semana de Pedagogia

Anais da IV Semana de Pedagogia

A comissão organizadora publica os anais da IV semana de pedagogia.


IV SEMANA DE PEDAGOGIA UFSCAR – SOROCABA: APRESENTAÇÃO, REFLEXÃO E AGRADECIMENTOS.

Aline Isidoro de Moraes  (org.), Daniel Cardoso Rodrigues  (org.), Heloisa Siqueira Garcia  (org.), Lenaye V. Silva (org.), Lenna Nascimento (org.)

O inicio e o conteúdo de um texto sempre são complexos, principalmente quando não são pautados por um tema ou um problema, ficando a deriva, ao bel prazer do escritor, complicando ainda mais se este nunca se viu diante da tarefa especifica daquele texto, como o presente texto que se apresenta nessas páginas. Apesar de o objetivo ser simples, apresentar os anais da IV Semana do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Campus Sorocaba, fico tentado a contar um pouco da trajetória de construção da semana, que apesar de não ser nada fora dos padrões de construção de um evento acadêmico-cientifico se constituiu em um momento de grande aprendizado para quem trabalhou para sua realização.
Presumo que toda a construção de um evento acadêmico-científico possua um tema, que será central para a constituição das mesas, terá um público-alvo, haverá possibilidades de atividades durante, mas pós-evento também. Um bom exemplo, foi o I Encontro dos Movimentos Sociais e Sindicais da Região de Sorocaba, encontro que visava a construção e a relação entre a UFSCar e os movimentos das cidades próximas a ela. O evento surtiu inúmeros frutos, entre eles a formação de um Fórum permanente, a publicação de um livro, a oferta de um curso organizado pelos professores e militantes do movimento negro tratando a cultura e a história do povo africano, além da articulação politica entre os movimentos.
Esses são exemplos das possibilidades de ações da universidade em parceria com os movimentos sociais, sindicatos e outras esferas da sociedade. Destacamos aqui a importância da universidade para a comunidade em que está inserida, pois a universidade é um espaço de formação humana, que imprime valores nos sujeitos que passam por ela, não é meramente um local para a “formação de profissionais” para o mercado de trabalho, tampouco um centro de pesquisas que serve ao interesse do capital. É um espaço que deveria ter como premissa o que Gramsci chama de Educação Desinteressada, uma formação voltada para a construção e emancipação do ser humano, e não interessada na formação de profissionais para o mercado de trabalho, pois a qualificação profissional é consequência da educação desinteressada e não objetivo dela. (NOSELLA, 2010)
Dentro desta concepção de universidade é que se constituiu o curso de Licenciatura em Pedagogia da UFSCar no Campus Sorocaba, ambiente que estimula os sujeitos a buscarem além dos limites de tempo/aula, conteúdo/matéria, teoria/prática, ou seja, que os acadêmicos realmente vivam a universidade. Este período da nossa vida é de fundamental importância, visto que como futuros educadores não podemos apenas nos apropriar de um conjunto de informações teóricas, mas precisamos aprender a refletir sobre diversos temas e saber como nos portar diante deles. Sentimos que o curso vem cumprindo o seu papel de apresentar aos estudantes momentos de estudo e de reflexão que nos impulsiona a sermos sujeitos autônomos de nossa própria história. Uma universidade comprometida com a sociedade propicia momentos de reflexão sobre as práticas cotidianas de uma atividade profissional que intencionamos seguir e para tanto devemos estar conscientes de todos os prós e contras deste caminho, sendo capaz de refletir sobre nossas práticas e escolher nosso caminho, como diria meu professor de Escola e Currículo, “Você pode ser o que quiser, tradicional, construtivista, marxista, contanto que tenha consciência de seu posicionamento e assuma quem você é!”.
Faz-se necessário este pequeno relato, que a bem grosso modo, demonstra o que tenho visto como concepção pedagógica do nosso curso, para poder demonstrar de qual ambiente emergiu o tema da semana: Educação e Movimentos Sociais. Ele surgiu entre um grupo de oito ou nove estudantes que discutiam a necessidade de uma articulação para realizar a semana do curso, que em sua quarta edição, seria a primeira vez organizada unicamente por estudantes.
Observamos que dentro de um ambiente tão instigante ao questionamento e à mobilização, se torna necessário pensar na articulação entre educação e movimentos sociais, pois acreditamos que a educação não deve ser uma ferramenta ideológica do Estado, tampouco da lógica capitalista, com o princípio de manutenção do poder ou preparação para o mercado de trabalho e vivência na sociedade capitalista neoliberal. Acreditamos que a educação visa a emancipação dos sujeitos (em qualquer faixa etária) e deve demonstrar a realidade existente dentro dos muros da escola, (como apontam Apple, Bourdieu, Mézàros, Paulo Freire) e fora dele. Se temos o objetivo de emancipar, então devemos nos articular, fazer politica de coalizão, nos unirmos com os demais oprimidos, sendo assim, qual é a expressão mais recorrente dos oprimidos, se não a articulação em forma de movimento, com pauta de revindicação e pedagogias de ação?
Os movimentos sociais são uma das expressões da luta das “minorias” oprimidas, marginalizadas e guetificadas em nossa sociedade. São diversos os movimentos sociais em luta constante por melhores condições de vida, podemos citar o movimento da classe trabalhadora, em formato de sindicato ou associação, o movimento estudantil, no formato de grêmios, centros acadêmicos, diretórios acadêmicos, entre outros. Os movimentos étnico-raciais, ambientais, pela inclusão dos portadores de necessidades especiais, pelo direito ao acesso à comunicação e às mídias digitais.
A primeira reunião foi feita três dias após a conversa entre os oito estudantes, a proposta foi apresentada, com propostas de temas para as mesas durante os cinco dias e possíveis convidados, junto a uma proposta de programação de atividades. Aberta a discussão,  inúmeros temas e propostas para semana surgiram. Marcamos uma segunda reunião uma semana depois para apresentação das demais propostas de temas. Após esta segunda reunião, o cronograma de atividades estava quase completo, pois o tema foi aprovado e acrescentamos duas rodas de conversa para falar sobre alfabetização e letramento.
Mas como a concretização se dá pelo processo de construção, durante o processo de organização da semana foi retirada a mesa sobre movimento feminista e movimento LGBT, temas que acreditamos ser bastante importantes e alteramos para movimento discente e docente, pois não havíamos conseguido encontrar participantes para a mesa antes pensada e também nós não havíamos contemplado na Programação uma mesa referente ao segundo tema, que para nós também é de suma importância.
O processo foi longo, seis, sete meses de muita correria para mantermos um equilíbrio nas mesas, buscando representantes tanto do movimento como de pessoas que trabalham com o tema na área da educação. Tentando deixar clara a possibilidade de união das duas temáticas, esclarecendo que educação e movimentos sociais não apenas  podem, mas precisam andar juntos, pois do movimento surgem as demandas e a luta por uma sociedade melhor e a educação é um processo que leva à reflexão e também à mobilização para colaborar com a mudança.
Além da organização das mesas, foi possível oferecer, graças à disponibilidade de inúmeras pessoas, mesas sobre alfabetização e letramento, que contou com a presença de coordenadora pedagógica e professoras da rede de Sorocaba, houve também  apresentação de professoras especialistas em educação especial, que falaram sobre as  possibilidades e ações de alfabetização com crianças com necessidades especiais. Agradecemos essas profissionais que doaram um pouco de seu tempo para fazer a articulação entre a teoria e a prática.
Também agradecemos a Prof.ª Dr.ª Lúcia Lombardi, que foi muito prestativa oferecendo um mini-curso com o tema: “Teatro e causos de escola”. Outra pessoa que não podemos deixar de agradecer é a Samira …., uma contadora de história que tem muita história de vida para contar e ofereceu um mini-curso de fantoche mamulengo, um brinquedo tipicamente brasileiro.
Registramos aqui nossos agradecimentos aos professores e professoras que trabalharam na comissão cientifica, aos diversos colegas que trabalharam na organização durante a semana, para preparar o café cultural, ajudaram com o som e o datashow, carregaram mesas, venderam camisetas, rifaram livros, venderam trufas, e fizeram tantas outras coisas para que essa semana fosse realizada.
Eu pessoalmente (Daniel), agradeço aos meus país, que ajudaram na correria, sem eles eu não teria conseguido e a minha companheira, Heloísa, que sempre me ajuda quando preciso.
Encerramos com uma citação do István Mészáros  sobre o papel da educação para a mudança do sistema produtivo capitalista, dizemos também que se faz necessário para a mudança de toda a consciência social preconceituosa, conservadora e violenta:

[...] o papel da educação é soberano, tanto para elaboração de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como para as automudanças conscientes dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma nova ordem social metabólica radicalmente diferente. É isso que se quer dizer com a concebida “sociedade dos produtores livremente associados”. Portanto, não é surpreendente que na concepção marxista a “efetiva transcendência da autoalienação do trabalho” seja caracterizada como uma tarefa inevitavelmente educacional. (MÉSZÁROS, 2002)

Nenhum comentário:

Postar um comentário